Thursday, October 26, 2006


Acabava por perder-se em pensamentos... Já não havia o ar feliz nem a face sorridente de outrora, o brilho dera lugar às olheiras. Continuava em silêncio a falar para si própria, chorando lágrimas que não brotavam. E as paredes continuavam a ouvir os desabafos mudos e a dar palavras deslavadas para seu consolo. E ela encontrava o conforto nas velhas músicas de sempre, no cobertor puído e no copo de leite. As notas melodiosas pairavam sobre ela, embora o único som fosse o constante falatar das gentes monótonas. A memória sempre dava para acalentar.
Sentia frio. Muito frio. Mas tinha a certeza que um casaco ou uma manta seriam inúteis, até porque o gelo que sentia não se resolvia com o aumentar de temperatura. Nem com um verão antecipado. Arrepiava-se desde a pele mais superficial até ao centro do osso mais profundo. E voltava a perder-se nos soluços silenciosos da alma desacariciada.
Tinha medo. Tinha frio. Tinha falta de fé. Tinha falta de coragem. Tinha-se tornado isolada. Tinha-se tornado desanimada.
Contudo não lhe valia de coisa alguma ficar permanentemente a contemplar a vida a passar.
Galão terminado, alma aquecida, coração reconfortado.
Levantou-se, pagou e desertou.